"Em 2012, brasileiros gastaram no exterior US$ 15,6 bi a mais que estrangeiros no país; em 2008, eram US$ 5,2 bi". A informação é manchete da Folha de S. Paulo deste domingo — clique aqui para ler a reportagem de Natuza Nery e Sheila D'Amorim.

O que explica essa balança tão desfavorável? São várias razões, entre elas o custo elevado de praticamente tudo que se vende no Brasil, da alimentação aos serviços mais básicos. Aqui sai mais caro comer, vestir, se divertir...

"Do cerca de 1 bilhão de desembarques no mundo em 2012, só 0,5% foi no Brasil", acrescenta o jornal. O país recebe poucos turistas e uma das explicações a Folha traz: "Pacotes para o Caribe ou a Turquia ficam mais baratos que viagem ao Nordeste".

As pessoas não vêm de fora para o território verde-amarelo como poderiam e os daqui não fazem turismo interno como seria o mais óbvio porque sai mais barato ir para o exterior. Não, as belezas desse "Brasil bem brasileiro" não bastam para mudar isso.

E com a aproximação da Copa do Mundo de 2014 no país, não são poucos os que "vendem" a idéia de que teremos muitos e muitos estrangeiros gastando milhões de euros, dólares, libras, pesos... Uma óbvia ilusão. Eles existirão, mas não com tal fartura.

Acrescente ao cenário acima resumido e bem desenhado pela reportagem da Folha o perfil da maioria dos torcedores que viajam nas competições internacionais de futebol. É assim nas eliminatórias, na Euro, no Mundial.

Muitos deles são "mochileiros", dormem em estações e aeroportos, comem o essencial, têm granaescassa no bolso e consequentemente gastam pouco. Museus, hotéis, restaurantes, shoppings, nada disso faz parte do roteiro desse fã.

O companheiro Gerd Wenzel, o genuíno alemão da equipe dos canais ESPN, manteve contato com profissionais da área do turismo após a Copa 2006 e constatou: eles se decepcionaram. Os resultados obtidos no Mundial realizado na Alemanha ficaram bem aquém do esperado.

Os turistas tradicionais que visitam o país em junho/julho (principalmente americanos e japoneses) evitaram o território germânico durante o Mundial. Para lá foram torcedores do tipo "bate-volta" (mais europeus) que não utilizaram a rede hoteleira, restaurantes e mal fizeram compras.

O contingente de jornalistas e torcedores não compensou a falta dos turistas tradicionais.
A rede hoteleira se queixou, porque a Fifa reservou todos os contingentes disponíveis e depois utilizou 50%. A outra metade foi cancelada a três semanas da Copa. Prejuízo!

O Brasil tem um problema óbvio a mais: a distância. Naquela Copa mais de 350 mil ingleses passaram pela Alemanha. Muitos viajaram, acompanharam um jogo da seleção da Inglaterra e voltaram logo após. É inviável fazer isso com jogos disputados do outro lado do Oceano.

Em 23 de agosto a Folha de S. Paulo publicou frase de Pedro Trengrouse, professor da Fundação Getúlio Vargas, sobre a queda da receita com turismo registrada durante os Jogos Olímpicos de 2012: "Na Olimpíada o perfil do turista de Londres passou de sofisticado para mochileiro".

Dá para imaginar como será com a Copa e os Jogos Olímpicos no Brasil.

POR RICARDO VIEIRA