22/12/2012 00h33 - Atualizado em 22/12/2012 02h04
Cada vez mais poluído, bacia não tem projetos de preservação ou revitalização
Foto: Ascom / PPS
Entulho, mau cheiro, peixes e crustáceos mortos por conta da poluição.
O atual cenário do Rio Joanes, responsável por 40% do abastecimento de
água de Salvador e Região Metropolitana, é desanimador.
O rio, que nasce no município de São Francisco do Conde, no Recôncavo, e
desemboca na Praia de Buraquinho, em Lauro de Freitas, está bastante
deteriorado e sua situação se agrava a cada dia. Os esgotos de
condomínios de luxo, das comunidades ribeirinhas e os resíduos das
indústrias situadas próximas ao rio são os principais fatores de
contaminação. "A sociedade não valoriza este importante patrimônio, não
cuida, não protege e não fiscaliza o uso impróprio pelas empresas,
fazendas, órgãos públicos etc", critica o ambientalista e secretário
executivo do Conselho Gestor da APA Joanes Ipitanga, Caio Mário Vieira.
Em entrevista ao
Metro1, Caio explicou ainda que
existem partes do rio que não estão completamente poluídas. "Da nascente
do rio até as barragens de captação de água para abastecimento de
Salvador, Polo Petroquímico de Camaçari e Simões Filho, a situação está
controlada, embora sem a necessária proteção estratégica, em razão de
ser um manancial de abastecimento de uma capital e de sua Região
Metropolitana", relatou.
Atualmente, não existem projetos de preservação ou de revitalização da
Bacia do Joanes, apenas obras iniciadas em alguns municípios, cujos
efeitos futuros podem ser positivos para o rio.
No mês de maio, o Rio Joanes foi alvo de ação ambiental envolvendo
mutirão de limpeza e plantio de mudas de espécies nativas em suas
margens. Aproximadamente uma tonelada de lixo foi recolhida, e o
material reaproveitável foi encaminhado para reciclagem pela Cooperativa
Amigos do Planeta.
Fonte de sobrevivência
O que ainda garante a sobrevivência de quem depende do Joanes é a
manutenção das barragens, que tem como consequência a venda da água e a
remuneração de muitos empregados. Mas os pescadores e marisqueiros que
dependiam do rio precisaram procurar outra atividade -- ou pelo menos
uma outra fonte para garantir seu sustento. "A degradação das bacias
expulsou os peixes, seus pescadores, suas marisqueiras, seus pássaros e
mamíferos, batráquios, répteis, crustáceos, além dos seus
microorganismos benéficos, transformando as calhas em grandes depósitos
de esgoto", explicou Caio Vieira.
ONG em prol do rio
Sensibilizados com a situação do Rio Joanes, moradores de Lauro de
Freitas e Camaçari criaram a Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público, a OSCIP Rio Limpo - Uma Corrente Para Salvar o Rio Joanes. A
ONG, que foi criada também em parceria com os pescadores e marisqueiros,
organiza encontros e caminhadas com o apoio de empresários e de
associações locais, a fim de conscientizar a sociedade para não jogar
lixo no rio, alertando-a sobre a importância da defesa do Joanes e de
seus afluentes.
A luta para salvar o Rio Joanes não conta com ajuda direta de nenhum
órgão governamental. O Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos
(Inema) têm ajudado em alguns aspectos, mas ainda não é suficiente. "O
Inema possui muitas informações, gera muitas estatísticas, consolida
muitos estudos e propostas, mas não possui autonomia jurídica para
transformar estas informações em atitudes de revitalização", garantiu o
ambientalista.
"É importante a manifestação da sociedade civil organizada, não só pelo
conteúdo, mas pela capacidade de traduzir as necessidades e oferecer
soluções e propostas", alertou.