quinta-feira, 6 de junho de 2013

FAMILIAS REFÉNS EM LAURO DE FREITAS

 


Hoje, a cidade se deparou com mais uma morte violenta de uma jovem munícipe. As versões, julgamentos para as causas serão especuladas ao cansaço, vão falar de crime passional, vingança, de assalto seguido de morte, vão lembrar das drogas, lembrarão que o assassino é um jovem. Exaltarão dos valores da vítima, de sua beleza, de sua juventude, de seu talento musical, do futuro promissor que tinha pela frente. Outros denunciarão sua conduta, acusando-a de extravagante, inconsequente e de outros adjetivos que não valem a pena sequer ser mencionado. Isso fará como percamos mais uma vez a perspectiva do fato, da morte absurda de um ser humano, de uma cidadã de Lauro de Freitas, que era filha, amiga, parente de alguém e que agora morta, entra para as estatísticas e possivelmente no rol dos casos insolúveis envolvendo assassinatos, ou ainda, que ficará impune como tem sido praxe acontecer em nossa Bahia. Mas poderia ser uma mulher mais velha, feia esteticamente,  sem popularidade, poderia não ser cantora nem frequentar os lugares mais badalados da cidade, na companhia de gente famosa de nossa urbe, mas ainda assim, moradora do nosso município, sendo parte de uma família, como filha, talvez mãe solteira, divorciada, com netos, sobrinhos e um pequeno grupo de amizades; o nosso sentimento deve ser o mesmo, de tristeza, comoção e manifestação nas redes sociais de nossa indignação com a brutalidade e maldade com que se mata em nossa querida Lauro de Freitas.  

Ao me dirigir mais cedo para o meu escritório de contabilidade me deparei com a cena, o corpo já coberto por um lençol, na pista, sob os pingos da chuva que caía,  pareceu-me se tratar de um atropelamento, mas a causa mortis foi morte por arma de fogo, talvez o principal causador de mortes de nossos pares laurofreitenses. O que mais me escandaliza é a ousadia, o desrespeito com que essas cenas de pura violência são encenadas, em qualquer lugar, horário com uma platéia grande, que participa do ato cênico mesmo contra vontade, com  perfomances diversas, aplaudindo, simplesmente gravando em seus celulares, câmeras digitais  ou sendo parte no teatro macabro no papel de vítimas, que podem pelo bem do espetáculo ser sacrificados ao vivo.

 Como contador, trabalhando sob o rigor das leis tributárias, trabalhistas e comerciais, o raciocínio lógico me fez elaborar contas, ler dados, como a informação degradante que nossa cidade figura entre as 10 cidades mais violentas do Brasil, entre as cinco da Bahia e caminhando à passos largos para a segunda em morte de jovens.  A memória me trouxe a lembrança da morte no sábado de um segurança da  festa Forró da Grande Família, com mais de três mil pessoas participantes e que agora poderiam ser arroladas como testemunhas. Minha mente me levou há duas semanas atrás, quando minha filha me ligou da faculdade MAURICIO DE NASSAU, dizendo que as aulas foram interrompidas por conta de uma troca de tiros entre elementos na rua onde a instituição de ensino funciona. Fui às pressas encontrá-la, angustiado, louco por vê-la segura. Nesse meio tempo, minha mãe me diz triste que um sobrinho tinha sido assaltado por volta das 18h, entre o fim de linha e o posto de combustível ali estabelecido, num horário de grande fluxo de veículos e transeuntes.  De novo, me assusta a audácia e o desprezo pelo outro e pela vida. O assaltante, um jovem da mesma idade, da mesma cor, da mesma cidade. Não esqueço do estudante que no interior do colégio Américo Simas foi alvejado por tiros disparados por outro colega de escola, com a mesma idade, da mesma cor, da mesma cidade.

Nossas famílias são reféns da violência, da corrupção nos poderes executivos que não cumprem as metas e medidas previstas na Constituição Federal, sancionadas por Leis, Decretos, Normas e Instruções; dos poderes legislativos que não propõem,  não dialogam com a sociedade, não representam seus eleitores, não fiscalizam o Poder Executivo, que buscam vantagens de toda ordem;  dos poderes judiciários que julgam em causa própria ou a favor dos parceiros, que emperra o sistema, que não faz cumprir  a Justiça nem as penas julgadas, que desvirtuam o Direito conforme queiram; dos poderes de polícia que não protege, que se corrompe, que intimida e que transforma vítimas em marginais e inocenta os bandidos. 

"As grades do condomínio
São para trazer proteção 
Mas também trazem a dúvida
Se é você que está nessa prisão..." 

Trecho da música A PAZ QUE EU NÃO QUERO -  O Rappa


POR RICARDO VIEIRA

2 comentários:

  1. Você está certo Ricardo, somos reféns de um sistema que não está funcionando para o bem da população. Nossos representantes também se esqueceram que foram eleitos pelo povo, para o povo e para trabalhar para o povo, porque eles são pagos pelo povo. O que é necessário é "Tolerância Zero" contra a corrupção, e os criminosos de qualquer classe social.
    Lynn

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