domingo, 26 de outubro de 2014

DISCUTIR A VIOLÊNCIA É O ÚNICO CAMINHO PARA VENCÊ-LA


Discutir a violência, quase sempre nos faz pautar e falar somente nas mortes violentas de pessoas envolvidas com tráfico de drogas e marginalidade; faz escolhermos entre dois lados imaginários, que compreendem e definimem bem e mal, certo e errado, mocinhos e bandidos. Enquanto isso vemos que a maioria das mortes de jovens negros pobres da periferia são praticadas por jovens negros pobre da periferia, que foram armados pela omissão dos governos e pela histórica falta de politicas públicas voltadas para quem verdadeiramente precisa ser dado o reconhecimento de "direitos humanos" como educação, saúde, lazer, habitação, cultura, trabalho e renda.

O Ministério da Justiça realizou um estudo sobre a violência envolvendo jovens em Lauro de Freitas, identificando que O município vem passando por um processo de crescimento demográfico acelerado, com isso, muitas famílias que moram no limite entre Salvador e Lauro de Freias vem gerando áreas mais periféricas com pouca infra estrutura urbana e escassez de equipamentos públicos, na qual se assentaram uma grande quantidade de famílias que no primeiro momento não tiveram uma assistência devida para as suas necessidades básicas de sobrevivência em comunidade. Também destas dificuldades resultaram o número elevado de homicídios, lesão corporal e ameaças, bem como a proliferação sobre o uso e tráfico de drogas, que vem cada vez mais cooptando os adolescentes e jovens, o que exige maior atenção do poder público. 

O que temos visto em nossas comunidades periféricas é um cenário de guerra que muito se assemelha àquelas que ouvimos falar e vimos em filmes, jornais e revistas no continente africano com cenas onde tribos irmãs se matam com requintes de barbárie inimagináveis, vimos verdadeiras milicias que se autodenominam como exército de salvação, exército de libertação da África; e que admitiam de forma coerciva meninos soldados para as suas fileiras, exterminando suas vilas e famílias nesse processo. Vimos que o sistema que mantém viva essas guerras civis são municiadas por governos armamentistas, e é o mesmo sistema de governos que discursam e defendem o fim das guerras que financiam. Qual a diferença que existe hoje dessas guerras étnicas na África, das guerras civis em nossos guetos brasileiros? Quem põe as armas nas mãos desses soldados cada vez mais jovens, que justificam as mortes de seus irmãos negros e pobres, entre bairros e até mesmo na mesma rua para garantirem poder e ocupação de territórios? 

Discutir segurança implica em lembrar que é um direito estabelecido em nossa Constituição Federal, lembrar que os Direitos Humanos e os movimentos de proteção tem que se manifestar sim, quando o Estado perpetrar ações abusivas que resultem na perda de direitos e vidas; mas também quando jovens negros e pobres cerceem os direitos e vidas de outros jovens negros e pobres. O Estado de fato dá as armas da ideologia, o tom da indignação e revolta, também dá a arma de fogo, a arma branca que mata, mas de imediato e em consoante devemos dentro de nossas comunidades criar condições de como tirar das mãos de nossa juventude as armas que matam à queima roupa, cruel e indiscriminadamente tantos negros e pobres.

POR RICARDO VIEIRA

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