Ação dos PMs foi registrada por câmera em residência na Calçada
(Foto: Almiro Lopes)
Após denunciar o desaparecimento de Geovane, na quarta-feira, a equipe do CORREIO foi alertada ontem, por telefone, para ‘ter cuidado’ na rua. Uma pessoa da equipe foi alertada por um coronel da PM de que todos os repórteres deveriam TOMAR cuidado: “A tropa está de olho em vocês”. A Secretaria de Segurança foi informada dos recados recebidos.
Outra informação preocupante é que o imóvel onde ficam as câmeras que registraram a última aparição de Geovane Mascarenhas de Santana, 22 anos, não está mais ocupado. O dono da casa, que cedeu as imagens nas quais Geovane é abordado por policiais da Rondesp e colocado no fundo da viatura, no dia 2 de agosto, decidiu se mudar com a família por se sentir ameaçado.
Na manhã do sábado (16), um caminhão-baú estava estacionado na porta do imóvel e vizinhos confirmaram que o dono se mudou com a mãe – uma idosa – e uma filha com problemas de saúde. “Ele está com muito medo”, disse o pai de Geovane, o comerciante Jurandy Silva de Santana, 40, que pretende pedir proteção cautelar ao rapaz.
“Tomamos conhecimento de que o morador do imóvel saiu porque um CARRO preto, de vidros escuros, começou a rondar a casa. Começa agora um indício de ameaça. Vamos comunicar ao Ministério Público Estadual para que se tomem providências”, declarou o presidente do Grupo Tortura Nunca Mais - Bahia, Joviniano Soares de Carvalho Neto.
Em coletiva na sexta-feira, o secretário da Segurança Pública, Maurício Barbosa, disse que ofereceria proteção à família de Geovane e às testemunhas caso houvesse necessidade.
Na segunda-feira (18), Jurandy voltará ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) buscar notícias sobre o corpo do filho.
“Eles não dizem nada. Tudo o que sei estou ouvindo só pela imprensa. Vim aqui hoje (ontem) para me explicarem direito esse quebra-cabeça, mas a pessoa que poderia me ajudar não está trabalhando hoje (ontem)”, desabafou.
Apesar de o secretário Maurício Barbosa ter confirmado, em entrevista coletiva, que a mão encontrada em Campinas de Pirajá junto com uma cabeça era de Geovane, ainda há dúvidas sobre o corpo não identificado que está no IML, desde o dia 4 de agosto.
“A informação não está batendo”, disse Jurandy, que soube que o corpo do filho havia sido encontrado, mas ao chegar no IML, percebeu que era o mesmo já apresentado a ele no dia 4.
Mais uma vez, Jurandy não reconheceu o filho no corpo, um tronco carbonizado, sem cabeça e sem as mãos, localizado no dia 3 de agosto. Apesar de um exame de papiloscopia (que identifica a impressão digital) ter revelado que a mão esquerda pertence a Geovane, um laudo que confirme a identidade da vítima decapitada e esquartejada só sairá em 30 dias.
Apesar da dor diante da crueldade praticada contra o filho, o comerciante Jurandy diz que perdoa os policiais, caso sejam responsáveis pela morte do rapaz. “Todos nós aqui temos uma missão. Se eles acharam que deviam fazer isso... Todos os três ali, que bateram, torturaram, mataram, esquartejaram, vou perdoar, de coração”.
Mesmo fragilizado com a situação, Jurandy se mantém forte para enfrentar possíveis consequências da busca por Geovane. “Eles já tiraram a vida de meu filho, vou levar minha vida. Já tiraram um pedaço de mim e se quiseram tirar o resto... Estou aí, na mão de Deus e de quem puder me ajudar”, desabafou.
Agora, o pai sente que a saga terminou. “Vou confortar meu pai, minha mãe. Meu objetivo chegou ao fim. Ter um final de uma história. Pior é não ter, viver nessa angústia”.
FONTE: CORREIO DA BAHIA
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